27 fevereiro, 2012

E o amor, por onde anda?




Tenho pensado muito sobre a falta de amor tão evidente entre as relações interpessoais da nova geração. E isso não se deve somente ao fim do carnaval, embora deseje me deter um pouco sobre o tema. Inspiração de poetas e cronistas, o carnaval já foi pano de fundo para muitas histórias de amor. No seu Conto de Verão nº 2, Luis Fernando Veríssimo narra a espera do jovem Píndaro pelo carnaval só para rever sua amada. Chico Buarque dedicou várias canções ao tema e a busca pelos intensos amores carnavalescos pode ser ouvida em Noite dos Mascarados. As marchinhas de carnaval também garantem que o momento é propicio para o reencontro de antigos amantes apaixonados: “Foi bom te ver outra vez, ta fazendo um ano, foi no carnaval que passou! Eu sou aquele Pierrô que te abraçou, que te beijou, meu amor. A mesma máscara negra que esconde seu rosto, eu quero matar a saudade..." 

Eu mesma já tive a oportunidade de vivenciar amores parecidos, mas confesso que são cada vez mais raros. O carnaval agora virou putaria e disputa entre amigos para ver quem beija mais. As pessoas saem para as ruas, se beijam e não sabem nem os nomes umas das outras. Meninas e meninos são beijados à força e nem se quer se abraçam. O toque não é mais apreciado! E os encantos das fantasias e das pessoas já não é mais pauta entre os grupos de foliões. Os namoros carnavalescos não duram mais do que um beijo. Bauman registrou essa fragilidade dos laços humanos no livro Amor Líquido. Recomendo para os interessados no tema. Mas garanto que durante o carnaval é mais saudável se fantasiar, pular e tomar cerveja, pelo menos assim, evitamos sapinhos e todas aquelas DSTs... 

Mas a falta de amor ao próximo está chegando a níveis ainda mais assustadores. Desumanos, até. Hoje pela manhã, quando peguei o jornal durante o café da manhã e li a manchete principal, fiquei bastante preocupada: “Jovens Ateiam Fogo em Dois Moradores de Rua. Um Morreu”. O fato por si só já é terrível, mas fica ainda pior quando relembramos que há 15 anos a mesma crueldade matou um índio que dormia na W3. Na época, os criminosos alegaram que eles acharam que era só um mendigo e não um índio. Mas e daí? Quer dizer que morador de rua não é gente como a gente? Que brutalidade é essa que nos torna tão cruéis? Que tamanha falta de amor toma conta deste mundo e nos deixa cegos para o próximo? Quem nos dá o direito de tirar a vida de outrem como brincadeira? 

O desumano habita o mundo, o amor líquido começa a evaporar e eu ainda acho que só a arte salva!


Boa semana, pessoas!




ESPAÇO CULTURAL MOSAICO -SCRN 714/15 - Bloco: D - Loja: 16 
Telefone: +55(61)30321330
Site: http://www.espacoculturalmosaico.com.br/

“Este projeto foi contemplado pela Fundação Nacional de Artes – FUNARTE no edital Prêmio Procultura de Estímulo ao Circo, Dança e Teatro 2010”.






 

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